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O fim das redes sociais como conhecemos?

O início da era Blockchain nas mídias sociais

 

Photo by Robyn Oh on Unsplash

Há algum tempo, as redes sociais apresentam sinais de desgaste como ferramenta digital. Algoritimos centralizadores na distribuição do conteúdo, excesso da exibição de publicidade segmentada e crescente insegurança sobre questões de privacidade são apenas algumas razões que explicam esse desgaste. As redes sociais de maior audiência acabaram se tornando ao longo do tempo a antítese das características de formação da própria internet. Profundo? Explico.

A internet nasceu como rede a partir de um projeto militar de descentralização de informação. A preocupação que motivou a criação dos protocolos de internet era basicamente proteger o armazenamento e a troca de informação em caso de um ataque militar. Quando a Arphanet, nome original do projeto, se tornou internet comercial, ainda permaneceu com essa característica durante anos.

Na era 1.0, a web era basicamente de uma via. Pessoas produziam e consumiam conteúdo estático. Foram criados os primeiros buscadores para ajudar os usuários a encontrarem informação na rede. Com o surgimento de meios tecnológicos capazes de facilitar a co-criação de conteúdo, a internet chegou na sua fase 2.0: a informação era criada, compartilhada e distribuída com mais facilidade. Talvez, isso tenha facilitado mais que apenas a gestão de informação: ao longo do tempo, como em um movimento cíclico, os principais serviços e ferramentas sociais apresentam características centralizadoras em vários aspectos relacionados ao conteúdo e sua propriedade.

 

O que está acontecendo?

Você já deve ter percebido que é cada dia mais comum perder aquele post que você gostaria de ter visto antes na sua timeline. Isso acontece não apenas por escolha sua, mas também por decisão da(s) rede(s) que você utiliza. Foi o que aconteceu comigo com o thread do Twitter abaixo (Valeu Rafael Zundt pela lembrança!).

 

 

O Twitter está financiando uma pesquisa para lançar a versão descentralizada da sua plataforma. O projeto é chamado “Bluesky” e, por enquanto, não tem ninguém trabalhando nele. É missão do atual CTO, Parag Agrawal, encontrar a liderança do projeto que será tocado por 5 profissionais. A conta do projeto no próprio Twitter mantém por enquanto apenas uma mensagem, citando Jack Dorsey com o comentário “lo”, em referência à primeira mensagem enviada pela internet na história.

Mesmo sendo um projeto inicial e ainda sem perspectivas em relação à prazos e resultados, percebemos, por meio dessa iniciativa, um movimento das lideranças da internet nessa era da web 3.0 – o uso da tecnologia Blockchain.

A tecnologia Blockchain tem em sua essência a vocação descentralizada da própria internet e pode resolver uma série de questões atuais, conforme já escrevi em outros artigos e também indicado pelo próprio Jack Dorsey em seu thread.

É relativamente fácil ver como essa tecnologia pode ajudar a criar um sistema de pagamento descentralizado com a manutenção de registros distribuídos. Porém, como fazer isso na lógica das redes sociais?

 

Redes Sociais Descentralizadas

De fato, redes sociais descentralizadas já existem. Steemit, Earn, Social X, Odin, Indorse, Mastodon e algumas outras iniciativas já fazem parte do ecossistema de comunicação social digital. Alguns operam em sistemas compostos por servidores administrados individualmente ou pela própria comunidade e são baseados na Blockchain em protocolos de rede de código aberto.

Jack Dorsey não mencionou claramente se irá considerar o que já existe como padrão ou se irá desenvolver outro framework. Mas, já há algum tempo, o Twitter participa do Data Transfer Project, um esforço em conjunto com Apple, Facebook, Google e Microsoft. Esse projeto visa a construção de uma estrutura comum com código de código aberto para permitir a contínua portabilidade de dados, de forma direta e iniciada pelo usuário entre duas plataformas distintas. Em outras palavras: o projeto quer facilitar a movimentação de dados na web. É possível que a Bluesky tenha alguma interação com esse esforço já existente, porém, com foco ainda maior no uso da tecnologia Blockchain.

 

Quem ganha com isso?

Mas você deve estar se perguntando como o Twitter pode se beneficiar com o estabelecimento de um novo framework descentralizado ou até mesmo com o uso de um protocolo existente. Talvez a resposta esteja justamente na questão da responsabilidade de moderação. Se o Twitter não centralizar mais a operação, ele é muito menos responsável sobre o que as pessoas postam online. O valor das redes de mídia social pode se tornar mais vinculado ao fornecimento de algoritmos de recomendação de conteúdo do que simplesmente a hospedagem do conteúdo e do que se faz com ele.

Para os usuários, os benefícios da descentralização são claros na medida que os protocolos respeitem a privacidade e a propriedade da informação dos criadores de conteúdo. Outro benefício é que as redes que venham a utilizar essa informação descentralizada em seus algoritmos possam ser transparentes com esse uso.Se os algoritmos das redes persistirem com a mesma orientação atual, a descentralização da informação poderá ser apenas um ganho operacional para a redes sociais, que não seriam mais proprietárias do conteúdo, porém, com direitos à utiliza-lo da forma como o usuário concordar.

É interessante destacar que existem diversas iniciativas de governos e organizações internacionais no sentido de estabelecer frameworks regulatórios no uso da tecnologia Blockchain nas transações financeiras com criptomoedas e demais ativos digitais. Isso também ocorre, eventualmente, em outras formas de uso na logística e distribuição de bens e serviços. No entanto, é importante destacar que isso não segue necessariamente o mesmo padrão na pesquisa e desenvolvimento de soluções na comunicação entre as pessoas. Da mesma forma como a economia afeta a soberania de sociedades em todo o planeta, a comunicação é elemento essencial em sistemas democráticos. Não precisamos virar 2020 para perceber a importância da comunicação digital por meio das redes sociais tem em processos eleitorais mundo afora.

Resta saber se o projeto do Twitter será o principal catalisador das mudanças na comunicação descentralizada entre pessoas. De toda forma, o projeto já traz diversos benefícios para o meio. Além de aumentar as discussões sobre o tema, é interessante pensar que existem alternativas para que a internet possa funcionar de forma a ajudar a sociedade e que, com sua própria natureza descentralizada, possa efetivamente ser um ambiente mais livre e seguro para as pessoas.

professor, palestrante e profissional de marketing com mais de 20 anos de experiência em atividades de gestão e ensino. Na sua carreira, atuou em empresas como Lojas Americanas, Postercope Brasil, Itaú-Unibanco, Universidade Católica de Brasília, IESB / Istituto Europeo Di Design, entre outras, além de atuar em projetos para Coca-Cola Brasil, Vivo, Sportv e Comitê Olímpico Brasileiro. Mestre em Inovação, Marketing e Estratégia (UnB), publicitário formado pela ESPM, pós-graduado pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, Fundador da BMS (Brasília Marketing School), atualmente se dedica à consultoria e projetos de marketing com orientação tecnológica no Brasil e na Europa. Entusiasta da tecnologia Blockchain e suas aplicações, Fernando participou do OECD 2019 Global Blockchain Policy Forum além de ser convidado para palestrar em eventos nacionais e internacionais de marketing e tecnologia em Dubai, Toronto, Barcelona, Praga, Lisboa e diversas outras cidades.

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